segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Cabana

Mais pelo efeito ‘marketing’ (“um dos maiores fenómenos de vendas nos EUA”, duas edições de Outubro de2009) entrei em “A Cabana” ("The Shack") de Wm Paul Young. A história, em si, é banal: um casal, Mackenzie Allen Phillips e Nan e os seus três filhos, Josh, Katerine e Melissa, fazem uns dias de férias num parque de floresta no Oregon. Incompreensível e misteriosamente Missy desaparece provocando a dor natural e o desespero do feliz casal, com efeitos mais marcantes no progenitor. Passados três anos e meio, por impulsão de um bilhete anónimo (Papá=Deus) misteriosamente colocado na caixa do correio, Mack atreve-se a voltar ao local do crime (A Cabana) onde, às tantas, se vê frente a frente com três personagens misteriosas: «uma robusta mulher afro-americana» (Elousine), «uma mulher pequena, nitidamente asiática» (Sarayu), «um homem que parecia ter 30 e poucos anos oriundo do Médio Oriente»(Jesus).
O livro desenvolve-se à volta dos sentimentos místico-religiosos de Mack, num discurso linear, sem ‘flashs back’, não suscitando qualquer ‘suspense’ (pese embora a trama inicial ter laivos de policial). Mais do que provocar dúvidas metafísicas em relação a questões de facto importantes como o sentimento religioso ou o mistério da existência o A. mais parece um pregador-missionário a dar receitas empacotadas em diálogos de inocente simplicidade. Sinceramente surpreende-me o seu impacto numa sociedade já com outras exigências intelectuais e literárias. Para mim foi o tipo de livro em que desejei chegar ao fim não pela curiosidade no enredo nem pela substância ideológica mas pela vontade de o largar. O ‘Sol’ em entrevista ao A. [16/1 0/09] fez-lhe uma pergunta interessante: “É um livro demasiado controverso para cristãos e demasiado católico para leigos?” Admitindo que, para alguns, deve ser isso Young assegura que «para a maioria a história não é sobre cristãos contra leigos, de forma nenhuma». Um Cristo fora de qualquer religião? Nessa mesma entrevista o A. por um lado afirma «sinto-me seguro de que esta história está assente na teologia ortodoxa» e, por outro, «sou um seguidor de Jesus, mas não sou uma pessoa religiosa». E, em entrevista à Rádio Renascença [21/10/09] diz que o livro, «não sendo só para crentes, pretende mostrar a verdadeira dimensão de Deus».
Pessoalmente não descortinei em “A Cabana” qualquer elegância literária ou construção de enredo que me permita classificá-lo como ‘marcante’. Mas estou mesmo a ver que vai dar guião para filme.

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