domingo, 30 de março de 2008

escolhas da treta

É dia de ver «as escolhas de Marcelo». Mais do que interesse é vício. Lá verei Maria da Flor Pedroso a fazer reverentemente de “yes, wooman” e pouco mais e a apoucar-se com um muitas vezes repetido “professor”. Professor que, para mim ainda é o que ensina, não o que opina. «Os meus comentários são sempre tendencialmente favoráveis ao PSD, mesmo quando não parecem» (durante uma aula aos militantes da secção D do PSD Lisboa – Expresso 21 de Março de 2008).
Perante isto que autoridade tem MRS para ridicularizar Jorge Coelho por, sendo comentador no “Quadratura do Círculo”, intervir num encontro de PS,s? E que independência nos garante nos seus comentários? Ó Professor, pelo menos poupe-nos à petulância das notas. Os seus ouvintes já tiveram muitas oportunidades de as receber (e, no meu caso, de as dar) em contextos mais adequados. E modere-se no ritmo (se isso lhe é possível). É que, se chamaram “picareta falante” ao A. Guterres então MRS deveria ser qualquer coisa como “metralha falante”.

domingo, 23 de março de 2008

Acabo de ler «O Lago Azul» (Fernando Campos). História linear construída a partir das infelicidades de D. António Prior do Crato, breve e infeliz rei de Portugal, e descendentes. Que encanto de literatura! Que suavidade narrativa (o Vento nem mesmo nos momentos de tragédia chega a ser ciclone )! Que autêntica cultura! E também que sageza! Na genérica pífia literatura portuguesa moderna que bálsamo para aqueles que procuram nas letras portuguesas o verdadeiro vernáculo moderno! Eia! Sus! Jovens aprendizes de escritor, apreciem e imitem o trabalho de pesquisa que o A. fez para produzir esta pequena mas valiosa pérola da nossa literatura.
Hoje satisfiz o meu gosto pela culinária e cozinhei para a Família
Cordeiro à minha maneira (4 pessoas)
Corta-se 1,5kg de cordeio (borrego, anho) em pedaços pequenos e limpam-se muito bem de toda a gordura. No fundo do tacho põe-se um ramo de louro e água a cobrir). Quando estiver a ferver botam-se lá para dentro os pedaços de cordeiro. Enquanto ferve(20’)
vai-se tirando o bedum com a espumadeira até a água ficar completamente clara. É altura de introduzir os tempêros: vinho branco (0,5 l), 12 dentes de alho, bastante azeite (se for virgem melhor), uma colher de chá de piripiri (malagueta, gindungo, guinda) e sal qb. Por cima as batatas (cortadas em pedaços granditos). Quando estas estiverem cozidas colocar um ramo de hortelã por cima, tapar e desligar. Cobre-se o fundo do prato com fatias de pão (durinho ou torrado) e o caldo a seu gosto. Acompanhar com salada (azedas, cunqueiros, agriões, rabaças ou, não havendo, chicória ou mesmo alface). O vinho deve ser tinto e graduado (14 ou 15º) mas convém não exagerar.
Em tempo : é um privilégio o borrego ter sido criado na Viladala.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Como de costume, e com o costumado prazer,passeio pela Frederico Arouca, Cascais.Desta vez desvio ocasional pela Rua da Saudade. Surpresa! No nº 13 lápide «Mircea Eliade,Bucarest,9-3-1907,Chicago,22-4-1986.Escritor.Viveu nesta casa.15 de Outubro de 2001».Impulso: ir para casa e reler «O sagrado e o profano - a essência das religiões»[Ed. Livros do Brasil, trad. de Rogério Fernandes].
Da badana :«Obra mundialmente considerada,«O sagrado e o profano...permite-nos verificar que o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história...Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no cosmos e, por consequência, interessam não só ao filósofo mas também a todo o investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana».

quinta-feira, 20 de março de 2008

A «Sábado» desta semana (nº 203) traz uma investigação exclusiva sobre «os negócios milionários da Igreja em Portugal». Curiosamente são os Salesianos os mais evidenciados:
-5 milhões de € num loteamento em Vendas Novas
-Terreno em Braga – 1,5 milhões
-Piscina coberta em Manique – 3 milhões.
O pobre do D. Bosco deve estar às voltas no túmulo.
A Confraria do Sameiro tem um investimento de 4,5 milhões em construção de albergaria (com restaurante, spa, duas piscinas aquecidas, jacuzi, banho turco, massagens, ginásio e solário). Em turismo religioso a diocese de Braga recolhe 500 milhões por ano. No Santuário do Bom Jesus há 3 «hotéis sagrados». Tem quintas e 20 edifícios em Guimarães.
O patriarcado de Lisboa possui a urbanização Jardins de Cristo Rei com 228 metros quadrados que vale 5 milhões para além de uma propriedade de 8 hectares para construção. O anterior Cardeal (D. António Ribeiro) deixou ao sucessor (D. José Policarpo) 5 milhões. Os consultores financeiros são de peso - Lobo Xavier e Jardim Gonçalves.
Santuário de Fátima : as receitas são tão elevadas(17,2 milhões em 2005) que deixaram de divulgá-las como protesto contra a obrigação de descontar 20% de IRC sobre os juros dos depósitos. A nova Igreja da Santíssima Trindade custou 70 milhões e – pasme-se !– foi paga sem recurso a crédito.
Em síntese, conclui o artigo :«o património global da Igreja portuguesa impressiona : terá mais de 20 mil edifícios entre santuários, igrejas, capelas seminários, templos e museus».
Aix, cada vez sou mais admirador de Cristo.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Acabo de ouvir no «Quadratura do círculo» o Pacheco Pereira comentar, a propósito das recentes eleições em Espanha, que uma total autonomia (independência) de regiões não seria nada positivo para Portugal. É um assunto em que todos os não iberistas (como eu) deveríamos pensar seriamente.

domingo, 2 de março de 2008

o burro

O burro é um animal doméstico porque vive com o homem. O burro dá-nos o estrume que serve para adubar as hortas, dá-nos os ossos que servem para fazer pentes e dá-nos a força que serve para acarretar tudo o que cá se cultiva : centeio, cevada, ferranha, milho, batatas e nabiças e até é capaz de trazer da ladeira sacos de amêndoa e de azeitona que vai logo para as tulhas do lagar dos Benignos. O burro também serve para levar a gente para a feira na Vila, mas aí vai todo enfeitado com albarda nova com tapete e alforjas bordadas e cabresto próprio. Até parece que vai para a festa. Mas não é boa educação a mulher ir escarranchada ou ir à frente do homem, podem dizer que vai roubada. Alguns ricos têm cavalo mas os que vão de burro também vão a cavalo. Dá na mesma e os burros até são mais mansos. Por isso os sentenças dizem mais quero burro que me leve do que cavalo que me derrube. Os alfaiates dos burros são os albardeiros que na nossa terra são muito importantes porque há cá muitos burros. A professora ensinou-nos que burro é um substantivo comum e regular pois o feminino é burra ao contrário do feminino de boi que não é boia e de carneiro que não é carneira e de cavalo que não é cavala e de galo que não é gala e de cão que não é cã e de chibo que não é chiba. Os burros são animais educados, um dia ouvi o meu pai dizer para o tio João quando um burro zurna o outro amoucha as orelhas, isto para o meu tio não o interromper, mas são amigos. Agora quem já não gosta tanto de burros é o
Silvestre, desde que por causa do ditado apanhou três reguadas em cada mão, coitado. Também quem é que o mandou escrever burra com ó. Mesmo assim no recreio ainda brincamos aos burros. Uma é assim, diz depressa aqui jaz o rei e a outra é os da 4ª classe a perguntarem qual é a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo zurnar. Alguns caem nela. Os burros quando são novos não são burros, agora já se sabe que burro velho não toma andadura.Também nessa idade não sei para que é que a quereria. Os ciganos sabem a idade dos burros pelos dentes e se não se enganam enganam mas os aldeanos já estão de pé atrás com eles, mas isso é só para comprar e vender porque se for burro dado não se lhe olha o dente. Há uma data de dias especiais, da Mãe, do Pai, dos namorados, da feira, da festa, o dia de são nunca à tarde que quando então o meu pai diz que me vai dar a burrica e assim mas dos burros ainda há mais, há um mês que é o que aí vem. Nesse mês juntam-se nas eiras do Prado muitos burros e burras a brincar mas as mães não querem que os vamos ver porque dizem que fazem coisas feias mas nós vamos às escondidas. Os burros não são burros as portas e os socos é que sim. Porque ao contrário do nome o burro é inteligente, a nossa senhora catequista ensinou-nos que está na Bíblia que uma burra até falou, até nos disse o nome do dono mas eu não me lembro, desculpe, e outro burro pensou tanto que até morreu a pensar. Os burros são educados e não gritam, por isso é que as suas vozes não chegam ao céu que está muito longe. E o burro também serve para dar conselhos e fazer recomendações como esta tu não sejas burro ou esta pensavas que era só chegar à burra e tirar-lhe um figo? O burro é um animal valente que se aguenta bem, pois só com três ao burro e o burro no chão. Por causa de um burro eu um dia fiquei todo embufado quando me disseram que o meu irmão tinha uma burra e eu também queria. Por fim ainda se riram de mim porque a burra era na mão. Há dias quando a minha avó mudava os lençóis espreitei vinte mil reis no colchão mas ela logo me disse que se fosse rica os metia na burra, adonde não sei. Os burros em pequeninos são muito lindos mas quando o Artúrio me chamou Chico burrico eu enraivei-me e escondi-lhe o regrão. Há pessoas que se aproveitam dos burros para serem mal-criadas. Um dia a Alice disse à Celeste foi a burra da tua tia referindo-se à tia e não à burra. Agora espero que a professora não me chame cabeça de burro por já ter escrito 47 vezes a palavra burro, fora esta e a que vem a seguir. Vai ser bonito, vai. Porí não me leva a exame mas a minha mãe já lhe prometeu um queijo de ovelha curado. Por tudo isto eu gosto muito do burro. Fim.