sábado, 26 de dezembro de 2009

Aniversário

[1.11.09]
Para que serve um aniversário? Poderia ser para celebrar os que faltam mas, na impossibilidade de os calcular,não é despropositado festejar os que já foram. Assim é, e pode-se fazê-lo de muitas maneiras. Uma delas, e não pouco comum, é deixar o habitat costumeiro e sair, de preferência com destino, que o risco da aventura é inversamente proporcional aos que se fazem. Este ano foi Lagos, mas através de itinerário diverso, percorrendo o Alentejo na plenitude do seu Outono soalheiro e variegado. Assim se pôde rever Beja e, das ameias do velho castelo, contemplar a vastidão que nos apouca. Seguir para Mértola, a de beleza e de história cativantes e, breve, chegar a Alcoutim, tão pequena quanto asseada e bonitinha como a carochinha. No ti’Afonso a delícia do guloso cozido de grão e doces regionais. Até Guerreiros do Rio é, como diriam os clássicos e porque em zona de caçadores, um tiro de uma dúzia de quilómetros, roçando o Guadiana e dez minutos de quietude (quase) religiosa. Guerreiros não tem nada para além do Hotel e do pequeno Museu mas tem tudo para quem descobrir, como fez a Margarida, a casa do senhor Carlos Escobar, um dos agora frequentes foragidos da agitação urbana e refugiados nos remansos da quietude rústica. Pequena habitação térrea com presença intensa do azul a ilustrar a paixão pelo belenenses (o Fred vai exultar de vaidade). É homem que tenho de conhecer. Encontro-o no café/taberna ao lado divagando (vulgaridades aliciantes, digo eu que não ouvi) com o pedreiro que faz um qualquer arranjo. Se me permite que fotografe e copie o poema que, em azulejo cuidado, adorna a parede exterior da habitação. «Pois não? Com gosto»:

“São três ruas a subir
São as mesmas p’ra descer
É monte de pouca gente
Força viva de viver.

Tem o nome de Guerreiros
Tem o rio abraçadinho
Tem peixe, paz e amor
E, seja lá p’lo que for
Vejo nele só carinho.

A sua gente é dos campos
Mas o rio também dá pão
Água doce, água salgada
A curtir a pele queimada
E a adoçar o coração.

Tem a norte as laranjeiras
E tem o álamo ao sul
Olhar, ver terras de Espanha
E quem chega nunca estranha
Ter mais sol ter mais azul”.

A modéstia não o instiga, mas vou à internet e leio: «Carlos Escobar “poeta, autor, jornalista, produtor, apresentador radiofónico”». Obrigado Carlos e até sempre.
Vila Real é mesmo a um passo, bordejando o agora calmo Guadiana, mas o apetecido arroz de lingueirão não é cozinhado que se sirva em dia de aniversário. Do mal o menos: atravessa-se aligeirado a via do infante até Lagos onde há tempo para proceder à desforra.……

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