terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As parras
Gosto do Outono. Além de suscitar nostalgias agradáveis brinda-nos com as folhas como nenhuma outra estação. Eu gosto de folhas, de todas, mas muito especialmente das folhas parras que são as folhas das parreiras (outros dizem videiras). As parras, no Outono, são únicas quando asssumem cores que o pincel do artista só imita. Comparáveis, talvez as de plátano. É vê-las ainda mal presas à vide, a caírem frágeis sob uma brisa suave ou espalhadas em chão rústico acolhedor. As parras são úteis e são inúteis. Úteis para fertilizar e servir de metáfora (“muita parra e pouca uva”) e de inspiração à fábula da raposa astuta mas despeitada de La Fontaine: “ainda estão verdes”. Inúteis como as que, intrigado, vi nos museus do Vaticano a taparem o sexo daquelas belas estátuas produzidas pelo génio clássico e renascentista. “Uma parrachachada» pensei então, sem reparar na perversidade do neologismo em local tão púdico. Para mim melhor que as amendoeiras em flor anunciando a Primavera só as parras do Douro despedindo-se do Verão.

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