tag:blogger.com,1999:blog-76970039123178220112024-02-08T11:06:47.369-08:00aixaixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.comBlogger77125tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-48643118863350524892011-09-01T08:39:00.000-07:002011-09-01T08:40:53.918-07:00Anti-epitáfio
<br />Belas frases em campa rasa e fria
<br />Não escondem o vazio da eternidade.
<br />Não há crença onde a única verdade
<br />É a certeza de não voltar um dia.
<br />
<br />Nem é coragem, nem fraqueza ou rebeldia
<br />Não querer epitáfio de saudade;
<br />Há-de haver quem exalte a liberdade
<br />De dar ao corpo o destino que queria.
<br />
<br />Se alguém fizer frases, que vão fora ;
<br />Se mereço uma memória do passado
<br />O meu último pedido faço agora:
<br />
<br />Não querendo imaginar-me assim prostrado,
<br />Prefiro ser lembrado a toda a hora
<br />Como alguém que optou por ser cremado.
<br />aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-11185907636742166152011-01-09T16:03:00.000-08:002011-01-09T16:05:29.888-08:00«uma campanha pateta»Anda tudo muito eriçado com as eleições presidenciais por causa das ligações do Cavaco ao BPN e do Alegre ao BPP. O meu Amigo Rui Fonseca, no seu excelente blog - «Aliás» - criticou-me por eu me ter indignado com a infeliz acusação da deputada Teresa Caeiro ao Alegre por ter escrito um texto de publicidade ao BPP. Respondi-lhe, amavelmente:<br />1-«Se a delação ... é criticável, então nunca conheceriam os votantes<br />os candidatos. Ora as campanhas eleitorais fazem-se também para sabermos quem são e o que têm feito na vida».Aproveito: em tempos vi com os meus olhos, no pequeno relvado frente à capelinha do Restelo, o então Sr.Manuel Alegre na marmelada com uma Senhora. Como poderia não ser a legítima esposa não será despropositado acusá-lo, embora tardiamente, de ofensa à moral pública, imprópria de um futuro candidato a PR.Vamos à delação agora!<br />2-«Manuel Alegre escreveu um texto claramente publicitário ainda que ele invoque que é literário. Não é».É (pode ser) digo eu. Quem define o carácter literário não é o conteúdo mas a forma.Os sonetos pornográficos de Bocage são literatura (da boa,digo-to eu). O slogan de Alexandre O'Neill «há mar e mar, há ir e voltar» teve uma finalidade publicitára.<br />3-«É ilegal? Parece que não, ainda que há [quem] levante a questão de<br />o ter feito quando era deputado e haver incompatibilidade». Quem a levanta deve é deitar-se (e dormir, se a consciência não o incomodar). Só faltava que um Deputado não pudesse escrever.A Natália Correia, então, fez pior quando em plena sessão da AR escreveu um epigrama dirigido ao deputado João Morgado:<br />«Já que o coito,diz Morgado<br />Tem como fim cristalino<br />Preciso e imaculado<br />Fazer menina ou menino;<br />E cada vez que o varão<br />Sexual petisco manduca<br />Temos na procriação<br />Prova de que houve truca-truca,<br />Sendo pai de um só rebento<br />Lógica é a conclusão<br />De que o viril instrumento<br />Só usou para razão<br />Uma vez!<br />E se a função faz o homem,<br />Diz o ditado,<br />Consumada esse exceção<br />Ficou capado o Morgado».<br />Quão nefasto seria perdermos esta preciosidade se ao Deputado fosse proibido escrever!<br />3-«Não discuto a eventual ilegalidade mas discuto a responsabilidade dele, enquanto homem público ter muito provavelmente induzido algumas pessoas a tornarem-se clientes do banco». Então,caro Rui,era criticável angariar clientes (ou ser cliente) do BPP na altura do seu lançamento? Algum Banco quando criado tem como finalidade a vigarice?aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-88584626002649229592011-01-09T16:01:00.000-08:002011-08-30T11:41:13.726-07:00Anda tudo muito eriçado com as eleições presidenciais por causa das ligações do Cavaco ao BPN e do Alegre ao BPP. O meu Amigo Rui Fonseca, no seu excelente blog - «Aliás» - criticou-me por eu me ter indignado com a infeliz acusação da deputada Teresa Caeiro ao Alegre por este ter escrito um texto de publicidade ao BPP. Respondi-lhe, amavelmente:
<br />1<em><em><em><em><em><em><em><em><em><em><em><em>-«Se a delação ... é criticável, então nunca conheceriam os votantes
<br />os candidatos. Ora as campanhas eleitorais fazem-se também para sabermos quem são e o que têm feito na vida».Aproveito: em tempos vi com os meus olhos, no pequeno relvado frente à capelinha do Restelo, o então Sr.Manuel Alegre na marmelada com uma Senhora. Como poderia não ser a legítima esposa não será despropositado acusá-lo, embora tardiamente, de ofensa à moral pública, imprópria de um futuro candidato a PR.Vamos à delação agora!
<br />2-«Manuel Alegre escreveu um texto claramente publicitário ainda que ele invoque que é literário. Não é».É (pode ser) digo eu. Quem define o carácter literário não é o conteúdo mas a forma.Os sonetos pornográficos de Bocage são literatura (da boa,digo-to eu). O slogan de Alexandre O'Neill «há mar e mar, há ir e voltar» teve uma finalidade publicitára.
<br />3-«É ilegal? Parece que não, ainda que há [quem] levante a questão de
<br />o ter feito quando era deputado e haver incompatibilidade». Quem a levanta deve é deitar-se (e dormir, se a consciência não o incomodar). Só faltava que um Deputado não pudesse escrever.A Natália Correia, então, fez pior quando em plena sessão da AR escreveu um epigrama dirigido ao deputado João Morgado:
<br />«Já que o coito,diz Morgado
<br />Tem como fim cristalino
<br />Preciso e imaculado
<br />Fazer menina ou menino;
<br />E cada vez que o varão
<br />Sexual petisco manduca
<br />Temos na procriação
<br />Prova de que houve truca-truca,
<br />Sendo pai de um só rebento
<br />Lógica é a conclusão
<br />De que o viril instrumento
<br />Só usou para razão
<br />Uma vez!
<br />E se a função faz o homem,
<br />Diz o ditado,
<br />Consumada esse exceção
<br />Ficou capado o Morgado».
<br />Quão nefasto seria perdermos esta preciosidade se ao Deputado fosse proibido escrever!
<br />3-«Não discuto a eventual ilegalidade mas discuto a responsabilidade dele, enquanto homem público ter muito provavelmente induzido algumas pessoas a tornarem-se clientes do banco». Então,caro Rui,era criticável angariar clientes (ou ser cliente) do BPP na altura do seu lançamento? Algum Banco quando criado tem como finalidade a vigarice?
<br />aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-10282369870730919212011-01-09T15:38:00.000-08:002011-01-09T15:40:03.797-08:00NobrezasA propósito de descendentes com sangue azul (na guelra) a ‘Sábado’ (nº 348) conta a estória de um tal conde de Mafra, D.Tomás de Melo Breyner, bisavô do Miguel de Sousa Tavares (que aliás não faz gala da nobre ascendência) que, sendo director de serviço no Hospital de S. José, questionado sobre o que fazer aos estudantes de medicina que reiteradamente apalpavam as enfermeiras respondeu: «Não vejo o que se possa fazer para resolver o problema, enquanto os estudantes tiverem mãos e as enfermeiras tiverem rabo».Viveu entre 1866 e 1933 pois se vivesse nos dias de hoje teria respondido: não vejo o que se possa fazer para resolver o problema, enquanto os estudantes quiserem apalpar o rabo e as enfermeiras quiserem ser apalpadas. Coisas dos tempos!aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-74134158724059437202010-11-25T16:09:00.000-08:002010-12-09T16:02:54.249-08:00aniversárioNo Trassovivo pinta-se, é claro. Que é como quem diz, pintam aqueles que sentem o chamamento para a arte da tela e da paleta.Mas cultivam-se lá outros ‘traços vivos’; um deles, por sinal um traço bem carregado em ‘bold’, é o da Amizade. Que pode manifestar-se de várias maneiras. Uma delas pode ser ir festejar o S.Martinho com arroz de cabidela e, claro, castanhas assadas à transmontana na Vila D’Ala ou ir bater-se com uma valente feijoada à casa de Santa Cruz do casal Julieta/Tó.Mas há outros. O de hoje, por exemplo, foi festejar-se o aniversário da Ana Maria em ameno mas animado lanche ‘in loco’. As costumadas prendas. A minha, simples mas bem aceite foi um poemazito, que a destinatária (aliás esplêndida 'dizeur') declamou:<br /><br />É real…é Real<br /><br />Aquele andar compassado e miudinho,<br />Aquele olhar doce de menina,<br />Aquele jeito, decifrável, de ser Mãe.<br />Aquele impulso magnânimo de ajudar<br />Como quem faz da vida doação<br />Sem se interessar a quem…<br /><br />Aquele gesto relaxante de pintar<br />Concentrada sobre a tela, duvidosa:<br />Paisagens, nus, seres a quem dá vida;<br />Feminina, suave, misteriosa,<br />A pôr no que faz alma e coração,<br />É de quem faz tudo com carinho.<br /><br />Com lembranças africanas vai sonhando:<br />Madres, colegas, incríveis histórias<br />Contadas por avós;<br />São memórias<br />Que nos lembra com prazer de vez em quando.<br /><br />No Trassovivo por vezes a sós,<br />Dando largas à imaginação;<br />Melhor, só estar com o seu Zé,<br />(Quem duvida que assim é?)<br />Seja em Carcavelos ou seja em Alpalhão.<br /><br />Aquele ar sereno, complacente,<br />De quem é que será, afinal?<br />Não será, podem crer, de muita gente;<br />Mas é de alguém certamente:<br />É da nossa Ana Real.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-73086645232498607252010-11-09T10:00:00.000-08:002010-11-09T10:05:59.358-08:00ninhosNaquele tempo os rapazes andávamos aos ninhos. Nas árvores ou nos barrancos porque os dos beirais era pecado destruir, a andorinha era sagrada. Ripar freixos e olmos era meia certeza de ninho achado, em geral nas trepolas. Cultivava-se o achamento: apostava-se quantos cada um sabia, visitavam-se pouco para não espantar a mãe e provocar o abandono (quantas não enjeitei por causa da curiosidade em vê-las a dar o subiaco aos implumes!), guardava-se segredo do sítio e, sobretudo, não se revelava à luz da candeia para não ir lá a cobra. Variadas eram as formas dos ninhos; em originalidade ganhava o pica-pau, mas alguém se atrevia a meter lá a mão? Depois havia os que apanhavam os pássaros.Também fiz algumas maldades que não confesso, mas logo me arrependia. O que entusiasmava era achar ninhos de carriça («a carriça diz a missa com sapatos de cortiça»). Já ninhos de pardal («o pardal muda o missal com sapatos de cabedal») não estimulavam.<br />E agora esta pequena pérola do nosso Miguel Torga para a pituxa a quem o Pai já mostrou ninhos na Vila Dala:<br /><br />«Segredo»<br /><br />Sei um ninho.<br />E o ninho tem um ovo.<br />E o ovo, redondinho,<br />Tem lá dentro um passarinho<br />Novo.<br />Mas escusam de me atentar:<br />Nem o tiro, nem o ensino.<br />Quero ser um bom menino<br />E guardar<br />Este segredo comigo.<br />E ter depois um amigo<br />Que faça o pino<br />A voar...aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-1493113163107732802010-10-14T17:00:00.001-07:002010-10-14T17:06:13.925-07:00Preconceitos…Em longa e, como sempre para mim, interessante e profícua conversa telefónica com o meu Amigo Prof . A. Cirurgião abordámos o problema da homossexualidade de Jorge de Sena, a que me tinha referido no meu comentário «Saramago…ainda» aqui deixado. Poucos devem ter conhecido o Prof. Jorge de Sena e Família, em especial a D. Mécia como o meu Amigo. Com receio e até vergonha de incorrer em calúnia (ou,mais suavemente, inverdade) procurei completar as informações do meu Amigo com escritos e pesquizas sobre o assunto. Confirmei o que já supunha: a questão é complexa sobretudo porque contaminada por posições políticas preconceituosas. É o que afirma por exemplo a jornalista São José Almeida que estudou o tema da homossexualidade baseada nos estudos de António Fernando Cascais, Professor na Universidade Nova sobre a homossexualidade em Portugal ao caracterizar os tratamentos do homossexual durante a ditadura «"Os Homossexuais no Estado Novo». Sobre Jorge de Sena São José interroga-se com pertinência: «até que ponto é que se deve questionar a eventual homossexualidade de Jorge de Sena partindo de entrevistas ou de textos do Autor? É complexo e polémico». Procura-se a homossexualidade de Jorge de Sena na forma (e no conteúdo) ‘esquisitos’ dos «Sinais de Fogo» e no conto «Grã- Canária», que seria auto-biográfico. Por seu lado Fernando Dacosta escreve: « Sena casou. Fazia praticamente um filho por ano, o que é uma atitude muito normal nos homossexuais [em que se baseia essa lei (!) da normalidade – pergunto eu]. Conheci-o». Afirma ainda que Jorge de Sena foi expulso da Marinha «por ter sido apanhado com um rapaz». Ora diz-me o meu Amigo Prof. Cirurgião que os arquivos da Marinha ainda não foram abertos ao público e que o meu ex-colega na Faculdade de Letras de Lisboa Arnaldo Saraiva, que descreveu a homossexualidade de Sena no jornal ‘Expresso’ tinha ambições em relação à sua Cátedra na Universidade de Santa Bárbara. A questão pode ser relevante para o estudo da condição homossexual na literatura portuguesa mas, por mim, reafirmo a ninha posição: para apreciar a obra de Arte em qualquer das suas manifestações é-me indiferente a inclinação ou opção sexual do Autor.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-745840778898562262010-09-22T15:28:00.000-07:002010-09-22T15:34:42.635-07:00impressões(1)Por deferência, estimulação ou, talvez mesmo, caridade, enviam-me com regularidade a revista «Boletim Salesiano». Chegou hoje o nº 522 do qual respigo duas notas bem diferentes:<br />-A primeira refere-se à morte do Pe.Edgar dos Santos Damásio que recordo dos tempos de Mogofores como um jovem íntegro, místico e decididamente vocacionado para o sacerdócio. Seguindo percursos bem diferentes soube-o mais tarde proficiente director da Biblioteca da Universidade Católica, quando eu leccionava na Faculdade de Psicologia de Lisboa. O Dr. Duarte Pereira já me dera conta do deu estado periclitante.<br />-O outro registo, bem mais reconfortante, foi-me sugerido pela entrevista ao Dr. Bagão Félix, na sua resposta à pergunta: «se tivesse que definir a sua vida através de uma árvore qual escolheria?» Textualmente: «A oliveira, por ser a expressão de tudo aquilo de que eu gosto na natureza humana: abnegação, austeridade, sinceridade, autenticidade, capacidade de resistência, heroicidade, santidade. O tronco – já corroído pelo tempo, pela erosão… - é quase milagroso ver como resiste, com serenidade, impávido. Sugere a ideia não do isolamento mas da solidão, no sentido da purificação, a ideia do deserto, da religiosidade, a ideia da ausência de tempo. Suporta tudo com candura, quietude e naturalidade. Gosto muito das árvores e plantas que me suscitam uma aproximação ética.»aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-3757943010338452302010-09-12T16:22:00.000-07:002010-09-12T16:49:05.988-07:00Saramago...aindaRecebi do meu Amigo Prof A. Cirurgião um e-mail com dois testemunhos, um de Emília Nadal e outro de José António Saraiva, sobre José Saramago de que extraio os excertos mais significativos, penso que sem alterar o conteúdo da suas posições.<br />De Emília Nadal [artista plástica cuja obra segue um caminho muito próprio no contexto da Arte Portuguesa, referindo-se a si própria como uma artista “marginal”]: <br />« Privei e trabalhei com a gravadora Ilda Reis, a primeira mulher de quem estava divorciado, quando a filha de ambos foi presa pela PIDE, por ser da exrtrema-esquerda e que, por isso mesmo, ele tratava friamente e até com animosidade. Era uma inimiga. Privei diariamente e viajei com o casal Isabel da Nóbrega e José Saramago do princípio ao fim da relação.<br />......................................<br />É pura verdade que a Isabel criticava e corrigia os textos que ele escrevia (particularmente do Memorial do Convento), discutia e dava nome às personagens (Belimunda). Ensinou-o a domesticar o ódio, a comportar-se socialmente e a adquirir um estilo literário. Sem ela ele nunca seria o homem e o escritor que foi.<br />A Pilar e o lobby Batassuna foram os grandes artífices da sua ascensão na cena internacional. Sem a influência política daqueles nunca teria recebido o Prémio Nobel…»<br />....................................<br />« Podíamos gostar de conviver com Saramago como um amigo interessante, respeitando as suas ideias e admirá-lo como escritor. Mas não devemos elevar, a exemplo nacional e universal, um escritor que até ter conquistado fama, amor, dinheiro e poder, cometeu grandes injustiças e foi profundamente desumano.»<br />...................................<br />«Os seus livros, sendo bons ou mesmo admiráveis, não são melhores do que os de muitos outros escritores portugueses, ainda vivos, que nunca serão reconhecidos internacionalmente. Não será por falta de mérito: é o que acontece a quem não tem padrinhos suficientemente bem colocados e influentes na cena mundial. Saramago beneficiou de tudo isso».<br /> ###############<br /><br />Agora o José António Saraiva:<br />«Conheci José Saramago antes de saber quem ele era. O ateliê de arquitectura onde comecei a trabalhar ficava na Rua Viriato – em Lisboa, perto da Praça do Saldanha – e ia muitas vezes almoçar a um restaurante chamado Forno da Brites, que distava uns 100 metros da porta do nosso prédio.Um dia, pouco depois do 25 de Abril, sentou-se nesse restaurante, na mesa ao lado da minha, um casal. A mulher era loura, bonita, de olhos muito azuis, e o homem era alto, mal encarado, de cabelo comprido na nuca. O almoço daqueles dois seres foi uma autêntica sessão de tortura. O homem falou durante quase toda a refeição, num tom áspero, de quemralhava, e a mulher ouvia, com ar sofredor. A certa altura começou a chorar, abriu a mala, tirou um lenço e limpou as lágrimas. Mas nem assim o homem se comoveu – e continuou a ralhar no mesmo tom agreste, que durou até ao fim do almoço. Eu conhecia a mulher de a ver em fotografias: era Isabel da Nóbrega».<br />..........................................<br />« Um belo dia – já era eu director do semanário Expresso – o director-adjunto, Joaquim Vieira, veio propor-me que Saramago tivesse uma coluna de opinião na 1ª página. Depois de reflectir uns segundos, disse-lhe que não – explicando que, dessa forma, a opinião de Saramago passaria a ser a mais importante do jornal, a mais marcante, o que não fazia sentido, até por ele ser assumidamente comunista. Teria algum sentido um jornal de matriz liberal ter como principal colunista (sobrepondo-se mesmo ao Editorial) um militante do Partido Comunista?»<br />....................................<br />« Revoltou-se contra Sousa Lara – e o próprio país – por não indicar um livro seu para um prémio literário. Ora não é verdade que Saramago apoiava o regime soviético, que praticava uma censura feroz sobre tudo o que se publicava?».<br /> <br /> **********<br /><br />Confesso que me repugnam profundamente os argumentos ‘ad hominem’ que procuram diminuir o valor de alguém apontando questões de carácter. JAS vai mesmo ao ponto de propor censura por razões ideológicas. Será que, se pudesse, mandaria queimar os livros de Saramago?<br />A cena do ‘Forno da Brites’ além de patética é pidesca: estava à cuca da conversa entre o casal? O choro foi por maltratos?<br />Se vamos pelo ‘ouvi dizer’ ou ‘ contaram-me’ onde poderemos parar? Pessoa absolutamente credível disse-me do grande poeta José Régio, de quem tinha sido aluno, «coisas que terei pudor/ De contar seja a quem for» [J.Régio, in ‘Toada de Portalegre’]. É sabido que o celebrado literato Jorge de Sena foi expulso de oficial da Marinha por razão de homossexualidade. Interessa isso para a valoração da obra dos Autores? Nada, em meu entender. Querer diminuir o valor de toda uma obra artística a partir de problemas de carácter e, pior ainda, de posições ideológicas, além de ressentimento é idiotice.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-92083352756872486592010-04-11T09:19:00.000-07:002010-04-28T08:55:46.966-07:00A ternura dos sessentaNo dia 7 de Abril todos os anos há anos. Os deste ano foram assim:<br /><br />Já é grandinha a menina;<br /><br />Cresceu como que sem dar por ela,<br />É grande, foi pequenina.<br /><br />Um a um lá vão passando…<br />A vida faz-se sonhando<br />Como quem pinta uma tela.<br /><br />Muitos? Poucos?... Que interessa?<br />Cada ano um hino à vida,<br />Com emoção bem sentida<br />Que o passado não regressa.<br /><br />Juntos já alguns passámos<br />(Dezoito, sem parecer).<br />Talvez que tantos não contem<br />Porque, quase sem querer,<br />Parece que ainda foi ontem.<br /><br />Muitos voltes a fazer<br />Tais os que já celebrámos!<br />E que todos venham a ser<br />Como os que para trás ficaram<br />Que foram mas não passaram,<br />Pois recordar é viver.<br /><br />Que a ternura dos 40<br />Pode estar sempre a florir<br />Sabêmo-lo nós de certeza...<br />Mas toda a idade é beleza,<br />Porque temos de convir<br />Há muito p’ra descobrir<br />Na ternura dos 60.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-39848922428571083872010-03-29T12:23:00.000-07:002010-04-11T15:33:54.082-07:00Aqui há preguiça...<span style="font-family:courier new;"><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;">Será que o meu astral anda por baixo? É que há 57 dias que não posto neste meu confidencial ‘memorial’. Imperdoável.Há que reagir, que a idade não perdoa. É a ocasião: a minha fiel e dedicada empregada Hermínia trouxe dos públicos (à borla, claro!) o «GLOBAL, o Diário gratuito de maior tiragem em Portugal». São 20, 20 páginas, das quais uma, a 12, me motiva. São sete, sete anúncios bem medidos que podem, espero, agitar a minha letargia. Não me falta por onde escolher. Como é meu hábito começo da esquerda para a direita e de cima para baixo. Assim: «Prof ABDALLAH – Êxitos em 48 horas». Eu só quero um exitozinho: o que me tire esta maldita preguiça do lombo. Leio e não me convenço: «Impotência sexual, dificuldade em engravidar, alcoolismo, amor, negócios, inveja, etc.». Por aqui não vou lá.<br />Vamos ao próximo. «Astrólogo médium africano – Prof. MAMBA». Este trata problemas de: «amor, amarração (o que será?), exames, doenças físicas e espirituais, negócios, impotência sexual, justiça, inveja e mau-olhado sorte na vida, vícios de droga, etc.». A lista é extensa mas não contempla a minha preguicite mais que aguda.<br />Adiante. «Astrólogo curandeiro médium africano – Professor SALIMO». Este não adianta, a lista é a cópia do anterior.<br />Vou ao da direita: «Grande Prof. GUIRASSY – 46 anos de experiência». Menu: «amor, insucessos, depressão, negócios, justiça, impotência sexual, maus-olhados, invejas, doenças espirituais, vícios de droga e álcool. Arranja e mantém empregos, aproxima e afasta pessoas amadas.». Mesmo com «pagamento depois do resultado positivo» não vislumbro mezinha que me garanta a assiduidade no meu ‘memorial’.<br />Talvez logo por baixo, um que é nome: «Professor KARAMBA Astrólogo médium africano». ‘Caramba’ é vocábulo frequente na minha terra quando se quer asnear de forma mais suave. Vamos a ver: «ajuda a resolver problemas sexuais, amor, justiça, inveja, negócios, família, sorte ou droga». O melhor é passar adiante. «Especialista em amor – Astrólogo médium africano Professor FOFANA». Presto atenção: «faz sucesso onde os outros falham» mas as especialidades são as mesmas: amor, impotência, etc…. .<br />Como a esperança é a última a morrer vou ao último: «Astrólogo Mestre DABO Vidente». Vou lendo a vasta lista de malinas a ver se acerta na minha: «o seu casamento está em crise? Quer recuperar o seu marido/mulher, namorado/namorada ou amante, amarra você quem desejar: marido/mulher, namorado/namorada ou amante e acabam-se os problemas».<br />Antes o meu mal fosse de amores, que lá haveria de o resolver. Mas a preguiça não tem cura. Assim: contra a preguiça…paciência, meu querido e confidencial ‘memorial’.</span> </span>aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-30987776618723499022010-01-31T16:29:00.000-08:002010-10-17T15:36:11.924-07:00Do regimeSou republicano por opção ideológica, que não por via láctea. Salazar, que tanto seria ditador em regime monárquico como o foi em regime republicano, chegou a dizer que a questão do regime não se punha. No que concordo. A República corresponde a uma evolução ideológica que se justificou no tempo da implantação e que hoje tem garantia de validade. A Monarquia é uma saudade não uma aspiração. Hoje devidiria mais do que uniria os portugueses. Espanha? Uma questão circunstancial (Franco). Dizem que a República não foi sufragada, e a Monarquia? Igualmente também não colhem argumentos como o dos custos do regime que, 'mutatis mutandis', se equivalem. Para mim o regime monárquico não só ofende como liquida o princípio natural e até cultural da igualdade à nascença. Num frente-a-frente ridículo na SIC de ontem um da causa monárquica (Gonçalo Câmara Pereira) argumentava: 'se o rei não presta, liquida-se'. Linda solução ("aliás" já em tempos admitida pelos princípios da filosofia política da ICAR em relação ao tirano). Faço votos para que as comemorações centenárias não conduzam a extremar posições maniqueistas mas produzam estudos sérios e serenos sobre o que de bom e de mau aconteceu nos nossos últimos 100 anos.<br />[Publicado no «Aliás», 31/1/10]aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-67868537672117783852009-12-28T11:58:00.002-08:002010-04-13T10:47:53.643-07:00A CabanaMais pelo efeito ‘marketing’ (“um dos maiores fenómenos de vendas nos EUA”, duas edições de Outubro de2009) entrei em “A Cabana” ("The Shack") de Wm Paul Young. A história, em si, é banal: um casal, Mackenzie Allen Phillips e Nan e os seus três filhos, Josh, Katerine e Melissa, fazem uns dias de férias num parque de floresta no Oregon. Incompreensível e misteriosamente Missy desaparece provocando a dor natural e o desespero do feliz casal, com efeitos mais marcantes no progenitor. Passados três anos e meio, por impulsão de um bilhete anónimo (Papá=Deus) misteriosamente colocado na caixa do correio, Mack atreve-se a voltar ao local do crime (A Cabana) onde, às tantas, se vê frente a frente com três personagens misteriosas: «uma robusta mulher afro-americana» (Elousine), «uma mulher pequena, nitidamente asiática» (Sarayu), «um homem que parecia ter 30 e poucos anos oriundo do Médio Oriente»(Jesus).<br />O livro desenvolve-se à volta dos sentimentos místico-religiosos de Mack, num discurso linear, sem ‘flashs back’, não suscitando qualquer ‘suspense’ (pese embora a trama inicial ter laivos de policial). Mais do que provocar dúvidas metafísicas em relação a questões de facto importantes como o sentimento religioso ou o mistério da existência o A. mais parece um pregador-missionário a dar receitas empacotadas em diálogos de inocente simplicidade. Sinceramente surpreende-me o seu impacto numa sociedade já com outras exigências intelectuais e literárias. Para mim foi o tipo de livro em que desejei chegar ao fim não pela curiosidade no enredo nem pela substância ideológica mas pela vontade de o largar. O ‘Sol’ em entrevista ao A. [16/1 0/09] fez-lhe uma pergunta interessante: “<em>É um livro demasiado controverso para cristãos e demasiado católico para leigos?”</em> Admitindo que, para alguns, deve ser isso Young assegura que «para a maioria a história não é sobre cristãos contra leigos, de forma nenhuma». Um Cristo fora de qualquer religião? Nessa mesma entrevista o A. por um lado afirma «sinto-me seguro de que esta história está assente na teologia ortodoxa» e, por outro, «sou um seguidor de Jesus, mas não sou uma pessoa religiosa». E, em entrevista à Rádio Renascença [21/10/09] diz que o livro, «não sendo só para crentes, pretende mostrar a verdadeira dimensão de Deus».<br />Pessoalmente não descortinei em “A Cabana” qualquer elegância literária ou construção de enredo que me permita classificá-lo como ‘marcante’. Mas estou mesmo a ver que vai dar guião para filme.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-59741506680523821982009-12-26T15:19:00.001-08:002009-12-26T15:19:47.448-08:00TrassovivoFrequento,com pouca asssiduidade, o atelier Trassovivo, do meu amigo Jorge Aragão, onde a Margarida dá largas à sua criatividade artística. É um grupo de amadores muito simpáticos e de muito valor já publicamente comprovado. Instado, de vez em quando, a tentar a minha inexistente arte pictórica já lhes disse que, se desenhasse um burro, para alguém identificar a figura teria que ver escrito por bem perto “isto é um burro”. “Já que não desenha escreva” sentenciam. Respondo não ao desafio mas à amabilidade com este<br /><br />Cantinho dos Artistas<br /><br /><br />Universo sedutor simbólico<br />Pensar o todo pintar a parte<br />É arte<br /><br />Espaço dimensão sem medição<br />Também de atelier de abrigo<br />Amigo<br /><br />Local de liberdade criativa<br />Convite à reflexão imaginar<br />Sonhar<br /><br />Onde a regra é libertar a fantasia,<br />Dar um gosto à vida pertencer<br />Conviver<br /><br />Maravilha de criar em tela rasa<br />Dizer sem palavras emoção<br />Visão<br /><br />Substâncias de produção<br />Acrílico óleo aguarela<br />A tela<br /><br />Criações imaginadas<br />Cânone a sinceridade<br />Liberdade<br /><br />Abstratos fingidos reais<br />Concepção em movimento<br />Sentimento<br /><br />Chapéus feiras femininos<br />Cores que dão vida à vida<br />Margarida<br /><br />Formas que a mente pariu<br />A paisagem o nu o lascivo<br />Trassovivo<br /><br />Artistas a voar bem alto<br />Porque será que aqui estão<br />Aragão.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-36633687382036219842009-12-26T15:11:00.000-08:002009-12-26T15:12:00.871-08:00A questão ibéricaUma recente entrada no blog “Aliás” sobre uma recente sondagem do jornal “El País” segundo a qual 40% dos portugueses aceitariam a união com Espanha suscitou-me este comentário:<br />A questão ibérica emerge historicamente de tempos a tempos.<br />Mais recentemente o paladino da união tem sido o "El País".Para além do que, na minha geração, nos ensinaram na Escola das nossas relações históricas com os nossos vizinhos, é útil racionalizarmos a questão. Pode o "El País" empertigar-se com os resultados da sondagem (não sei se os publicaria se menos favoráveis) mas a verdade é que ainda restam 60% de portugueses que teriam uma palavra a dizer. Aliás ponho reservas à aplicação da lei das maiorias em questões tão sensíveis como esta. Caso 51% dos portugueses fossem a favor da pena de morte esta deveria ser aplicada? Depois há a questão liminar do regime: Monarquia ou República? E se se caminhar para uma Europa das Nações que sentido faz unir o que está desunido há quase um milénio? E como reagiriam as regiões que em Espanha lutam (algumas ferozmente) pela independência? Quer-me parecer que, afinal, a classe mais interessada na união é a do capital ("et pour cause"!) mais alguns intelectuais que, no fundo, se envergonham de ser portugueses. Evocas, e muito bem, a cultura como factor essencial de identidade e independência nacionais. E cultura não é só livros, é sentenças sentidas do povo. Como apagar da memória colectiva o ditado "de Espanha nem bom vento nem bom casamento"? Para mim a conhecida frase de Lucáks "não há filosofias inocentes" assenta como luva a estas notícias: algo se pretende com elas. É o que se chama "gato escondido com rabo de fora". Tenho andado muito por terras de Espanha, admiro o seu passado, a sua cultura (identifico-me bem mais com o Unamuno do que com o Ortega y Gasset), e as suas gentes e tenho sérias dúvidas de que desejem a união.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-55609526741367485252009-12-26T15:09:00.001-08:002010-06-09T15:25:27.508-07:00QuerelaQuerela<br />Sobre o recente livro de Saramago, “Caim”, tem-se dito tudo e muito mais. Suspendi a minha opinião até ler o livro, como li os anteriores. Nas análises, nos frente-a-frente, nas entrevistas, debates, diálogos e blogs encontro alguns amores, muitos ódios e poucas imparcialidades. É vasta a legião dos ofendidos, quanto a mim despropositada porque, ou a fé é sólida e não é quemquer que a ofende ou é interesseira e receia concorrência. Parece-me vã a interpretação da Bíblia, se literal se simbólica ou metafórica. As duas coexistem e são legítimas: que Deus tenha criado o mundo em seis dias é, como quem diz, uma maneira de dizer, mas seria trágico não levar à letra o mandamento “não matarás” ou humanamente impossível não violar o outro que diz “não fornicarás” [Êxodo,20 – 13 e 14]. Nunca houve muita sintonia entre as duas dimensãoes da natureza humana, a Razão e a Fé e a verdade é que a expressão desta não facilita a aproximação da Razão : ouço proclamar (não sei com que convicção) no credo das missas :“Deus de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, consubstancial ao pai, por ele gerado e não criado…”. Convenhamos que é demasiado subtil e que bem poderia ser simplificado!<br />Ora Saramago, na minha leitura atenta, racionalizando não nega a legitimidade da fé dos que a têm (um doutrinador da Igreja, creio que Tertuliano, justificava-se sabiamente: “creio porque é absurdo”).<br />É abuso racionalizar episódios que, preto no branco, vêm descritos na Bíblia? Para a interpretação crente lá estão os exegetas (que estão longe da unanimidade). Para uma mundivisão agnóstica lá está a última frase, para mim a chave para a compreensão do texto: “A história acabou, não haverá mais nada que contar”. E a história é a escatologia de Saramago, simbolizada na pasagem de Caim por este “vale de lágrimas”, cruel e sem sentido porque regida pela lei do crime e castigo sem qualquer vislumbre de redenção.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-61512321648683489512009-12-26T15:04:00.000-08:002009-12-26T15:14:18.033-08:00Aniversário<span style="font-family:courier new;">[1.11.09]<br />Para que serve um aniversário? Poderia ser para celebrar os que faltam mas, na impossibilidade de os calcular,não é despropositado festejar os que já foram. Assim é, e pode-se fazê-lo de muitas maneiras. Uma delas, e não pouco comum, é deixar o habitat costumeiro e sair, de preferência com destino, que o risco da aventura é inversamente proporcional aos que se fazem. Este ano foi Lagos, mas através de itinerário diverso, percorrendo o Alentejo na plenitude do seu Outono soalheiro e variegado. Assim se pôde rever Beja e, das ameias do velho castelo, contemplar a vastidão que nos apouca. Seguir para Mértola, a de beleza e de história cativantes e, breve, chegar a Alcoutim, tão pequena quanto asseada e bonitinha como a carochinha. No ti’Afonso a delícia do guloso cozido de grão e doces regionais. Até Guerreiros do Rio é, como diriam os clássicos e porque em zona de caçadores, um tiro de uma dúzia de quilómetros, roçando o Guadiana e dez minutos de quietude (quase) religiosa. Guerreiros não tem nada para além do Hotel e do pequeno Museu mas tem tudo para quem descobrir, como fez a Margarida, a casa do senhor Carlos Escobar, um dos agora frequentes foragidos da agitação urbana e refugiados nos remansos da quietude rústica. Pequena habitação térrea com presença intensa do azul a ilustrar a paixão pelo belenenses (o Fred vai exultar de vaidade). É homem que tenho de conhecer. Encontro-o no café/taberna ao lado divagando (vulgaridades aliciantes, digo eu que não ouvi) com o pedreiro que faz um qualquer arranjo. Se me permite que fotografe e copie o poema que, em azulejo cuidado, adorna a parede exterior da habitação. «Pois não? Com gosto»:<br /><br />“São três ruas a subir<br />São as mesmas p’ra descer<br />É monte de pouca gente<br />Força viva de viver.<br /><br />Tem o nome de Guerreiros<br />Tem o rio abraçadinho<br />Tem peixe, paz e amor<br />E, seja lá p’lo que for<br />Vejo nele só carinho.<br /><br />A sua gente é dos campos<br />Mas o rio também dá pão<br />Água doce, água salgada<br />A curtir a pele queimada<br />E a adoçar o coração.<br /><br />Tem a norte as laranjeiras<br />E tem o álamo ao sul<br />Olhar, ver terras de Espanha<br />E quem chega nunca estranha<br />Ter mais sol ter mais azul”.<br /><br />A modéstia não o instiga, mas vou à internet e leio: «Carlos Escobar “poeta, autor, jornalista, produtor, apresentador radiofónico”». Obrigado Carlos e até sempre.<br />Vila Real é mesmo a um passo, bordejando o agora calmo Guadiana, mas o apetecido arroz de lingueirão não é cozinhado que se sirva em dia de aniversário. Do mal o menos: atravessa-se aligeirado a via do infante até Lagos onde há tempo para proceder à desforra.……</span>aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-13361990938870799372009-12-26T09:28:00.000-08:002009-12-26T15:15:47.582-08:00Ponte no Jamor<span style="font-family:verdana;">Não há como uma pequena dor de cabeça para impulsionar-nos a alterar o ritmo próprio das rotinas facilitadoras mas redutoras da vida. Muito sem saber porquê fui ter ao vale do Jamor, bem perto de casa mas [quase] desconhecido por causa dessas limitadoras rotinas. Agradável surpresa: a mata cerrada circundando o Estádio e zonas de jardinagem e passeio bem cuidadas, ladeando a ribeira que vai limpa e límpida. Tudo bem moderno e convidativo. Atravesso uma pequena ponte com a indicação "Ponte Frei Rodrigo de Deus"(1547-1622). Por baixo uma lápide inscrita em tosca pedra da época<br /><em>ASIDADEMAND/OVFAZERESTA/PONTEEASMAISOBRASACUSTADO/REALDO POVO/NOANODE1608.<br /></em>Sempre admirei a mistura do antigo com o moderno.<br />O resto da curiosidade saciou-ma o <em>google</em>.<br />Este Frei Rodrigo de Deus foi «um dos membros mais ilustres e queridos dos franciscanos arrábidos, o ramo dessa numerosa família religiosa em que Frei Rodrigo de Deus professou aos 21 anos». Escreveu o tratado "Motivos Espirituais" (1611), referido e elogiado por 'duas das mais significativas figuras literárias portuguesas de finais do séc. XVI e inícios do séc. XVII – Frei Agostinho da Cruz e D. Manuel de Portugal'. Sobre a lápide um texto da Câmara Municipal de Oeiras:<br /><em>«Quatrocentos anos sempre são quatrocentos anos, data assinalável, e para comemorar quatro séculos passados sobre a construção da Ponte Filipina sobre o Rio Jamor, a Junta de Freguesia da Cruz Quebrada-Dafundo promoveu, no passado dia 11 de Junho, uma cerimónia evocativa.Duas charretes transportaram os convidados de honra no percurso entre o Aquário Vasco da Gama e a ponte, onde foi depois descerrada a placa toponímica com o nome ‘Ponte Frei Rodrigo de Deus’. Na oportunidade foi ainda entregue, ao presidente da Câmara, um foral comemorativo, por um figurante trajado à época, encenando-se uma pequena recriação histórica.O presidente da Autarquia, Isaltino Morais, assinalou, no local, que “para a Câmara Municipal não são só as grandes obras que têm significado – estamos a fazer um grande esforço no sentido de conseguir recuperar todas as pontes do concelho. E são dezenas, na medida das muitas linhas de água que atravessam o concelho”.Recorda-se que a travessia sobre o Rio Jamor que ainda permite a ligação entre a Estrada Marginal e a localidade da Cruz Quebrada, foi construída, em 1608, graças à tenacidade e abnegação de um frade franciscano, Frei Rodrigo de Deus, que agora dá nome à ponte». </em><br /></span><br /><span style="font-family:verdana;">E assim pude constatar: o melhor de um dia perdido é um bom achado</span>.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-64379249807430718012009-12-11T08:51:00.000-08:002009-12-11T08:53:18.076-08:00Um dia depois da minha entrada anterior li no ‘<em>Bicho Carpinteiro’</em>, blog do meu antigo colega de Faculdade Medeiros Ferreira:<br /><strong>«<em>Guerra justa ou necessária?</em></strong><br /><em>Obama não interesa ao resto do mundo pelo facto de defender «os interesses dos USA», mas por defender esses interesses de uma certa maneira mais conforme com os valores da civilização internacional. O discurso de Oslo tem a marca do circunstancial, e foi uma oportunidade perdida para falar como pessoa. Quanto às guerras, elas , no máximo, são necessárias. O conceito de guerra justa provem das religiões, e hoje sabemos o que isso significa e quem recorre a ele com outras palavras. No Direito Internacional a guerra está justificada pela legítima defesa, pela resposta a invasão ou a agressão, e outros estados de necessidade. Como as operações militares a decorrer no Afeganistão desde 2001. Sim, há oito anos».<br /></em>Não foi certamente por aprendermos na mesma Escola. A verdade é que, frequentemente, concordo com as suas breves e sensatas análises.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-23791788689141427922009-12-10T16:08:00.000-08:002009-12-10T16:10:20.756-08:00guerra justaHoje Barak Obama, no discurso de agradecimento pelo prémio Nobel da paz defendeu (ironia das ironias) a guerra justa. O conceito de ‘guerra justa’ tem raízes medievais e foi defendida, juntamente com a teoria do ‘tiranicídio’ (é legítimo liquidar o ditador) pela igreja de Roma. É, a meu ver, uma teoria perigosa e completamente injustificável e, no limite, pode levar-nos à conclusão de que toda a guerra é justificável, portanto legítima. É que, nesta lógica, pode ser justa a guerra da Alcaida (para os que a fazem é-o de tal forma que até lhe chamam ‘santa’). Porque a justiça é, como a verdade, um conceito subjectivo.<br />Não me custaria aceitar o conceito de ‘defesa justa’, desde que ele não implicasse a teoria de que a melhor defesa é o ataque que, bem vistas as coisas, tem sido o argumento que os americanos têm dado para todas as intervenções em países cujos regimes não lhes convêm, sejam eles próximos (Chile do Allende)ou afastados (Iraque).aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-49482093338515574872009-12-07T03:34:00.000-08:002009-12-07T03:39:14.990-08:00<strong>Um aniversário<br /></strong><br />A menina é pequenina.<br /><br />Faz anos, que linda graça!<br />A graça de uma bonina.<br /><br />Celebremos este dia<br />Com transbordante alegria;<br />Faz anos – que muitos faça!<br /><br />Fazer anos, lindo fado,<br />Ter mais uma primavera;<br />- Quem nos dera ! quem me dera ,<br />Contigo sempre a meu lado.<br /><br /><em>«Ainda se os desfizesse»</em><br />Disse o João que era de Deus.<br />(Não se fazem tais apelos !)<br />Mas não se referia aos teus<br />Porque o que é bom é fazê-los.<br /><br />Um antes, outro depois,<br />Na verdade são dois «cinco»<br />(Aritmética inútil).<br />Deus sabe que eu não minto<br />E não digo coisa fútil :<br />Queremos ser um em dois.<br /><br />«Que os repitas muitas vezes»<br />Qualquer um sabe dizer<br />«Por cada ano mil flores»<br />É que é dizer de poeta,<br />Digo-to eu sem o ser:<br />Muitos anos p'ra viver<br />No jardim dos teus amores.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-73120322358592427222009-12-02T09:21:00.000-08:002009-12-02T09:29:56.310-08:00<strong>Uma fita para o Fred</strong><br /><br />Querias ser reformado<br />Quando eras pequenino;<br />Quem diria ser teu fado<br />Traçar o teu próprio destino.<br /><br />Teu lema é não parar<br />A missão ir mais além;<br />Não há limite ao sonhar<br />Quando se quer ser Alguém.<br /><br />Em milhares de parabéns<br />E de sucessos também<br />Estes são especiais :<br />São do Francisco e da Mãe.<br /><br />Algum esforço, muita vontade,<br />Chegaste ao fim. Ai que saudade!<br />Primeira etapa, outras virão,<br />O que te espera é uma missão.<br />Serão estratégias muito pensadas,<br />Visões, missões determinadas,<br />Serão objectivos, serão Clientes,<br />É a mudança, são os pendentes.<br />Recrutamentos e admissões,<br />Telefonemas, reuniões...<br />Serão análises, avaliações<br />De desempenhos, com notações.<br />Mais eficácia, mais Qualidade,<br />Na liderança, humanidade.<br />São os contratos, é o Direito,<br />Margens de erro, caminho esteito.<br />Despedimentos? – Desilusão<br />Que faz doer o coração.<br />Mais resultados – presta atenção :<br />Tudo se faz com Formação.<br />Mas tudo isto não tem segredo<br />Nunca dirás <em>ai, ai, que medo</em>. <br />Esta a etapa, esta a missão,<br />Isto é trabalho – isto é Gestão.<br />Com muita força, muito querer<br />Os desafios são para vencer.<br />Fazer com brio, fazer com gana,<br />Por trás de ti tens a Joana.<br />Com pertinácia (e muito agrado!) <br />Hás-de chegar a reformado. <br />Máxima honra, santa velhice; <br />Então dirás <em>“ai que chatice”. </em><br /><br />O meu desejo, prece também:<br />Que Deus te ajude a ti e <br /> <br /> Ámen.aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-82005088261023649852009-12-02T09:17:00.000-08:002009-12-02T09:21:07.044-08:00<strong><em>Uma fita para a Joana</em></strong><br /><br />A Joana é assim...<br />Um dia sonhou:<br />Hei-de ser alguém<br />que aos outros vai fazer bem!<br />A Joana é decidida,<br />É das que sabe o que quer;<br />Foi cursar Humanidades,<br />Não para um lugar qualquer,<br />Para a Católica, que é<br /> a melhor das Universidades.<br />Estudar?...foi um prazer;<br />Fez o curso a brincar<br />Sem qualquer ano perder;<br />Foi «chegar, ver e vencer»<br />(E até deu para namorar!).<br /><br />Agora chegou ao fim.<br />Chegar ao fim é começar<br />Com redobrada energia;<br />Dar aos Pais, ao Fred,<br />A todos<br />Os que sempre,<br />(Em especial nesta hora)<br />Estão consigo<br />Aquela mesma alegria<br />Que lhes deu até agora.<br /><br />Agora que «é alguém»<br />Nobres tarefas a esperam<br />Mas também muita ilusão :<br />Ser bálsamo para tanta dor,<br />Ser Palavra, ser Amor,<br />Esperança, dádiva, flor,<br />Alma grande como um monte,<br />Ser para todos uma fonte<br />Donde jorre tanto alento<br />Que apague sofrimento.<br />Uma luz na escuridão.<br />Fazer da vida um momento,<br />Fazer da vida Missão!aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-5733532658075320242009-12-02T09:12:00.000-08:002009-12-02T09:16:47.155-08:00<strong><em>Natal<br /></em><br /><br />Natal é esperança, Natal é nascimento;<br />É música no ar em sons ritmados,<br />É sentir perto de nós anjos alados,<br />O céu descer à terra um momento.<br /><br />As estrelas brilham mais no firmamento,<br />Pensamentos também mais iluminados,<br />Ódios antigos até são olvidados,<br />Do amor e do perdão é o advento.<br /><br />E se deixasse de ser só naquele dia?<br />E se essa ventura noutros dias fosse igual?<br />E se sempre houvesse paz, amor e harmonia?<br /><br />Brilhará nos corações nobre ideal,<br />Faremos dos outros a nossa alegria<br />Sempre que dentro de nós houver Natal.</strong>aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7697003912317822011.post-91056179558530635502009-12-02T09:06:00.000-08:002009-12-02T09:11:12.997-08:00<strong><em>Obrigada, Mãe<br /></em><br /> Mãe, é dia de dizermos obrigada,</strong><br /><strong>Ah! quanto de ti há em nós, quanto!</strong><br /><strong>Sempre pronta a estender-nos o teu manto,</strong><br /><strong>A desejar dar-nos tudo sem querer nada.</strong><br /><br /><strong>Ó bálsamo que cura, ó guia iluminada,</strong><br /><strong>Quem desvendara o porquê do teu encanto,</strong><br /><strong>Quem entendera o teu poder, que é tanto,</strong><br /><strong>Mulher que, porque Mãe, és adorada.<br /></strong><br /><strong>Referência que nos traz felicidade,</strong><br /><strong>Perdão que nos acolhe como ninguém,</strong><br /><strong>Complacência que nos olha com bondade.<br /></strong><br /><strong>És luz na escuridão, prece também,</strong><br /><strong>Para uns doce presença para outros saudade,</strong><br /><strong>Felizes são os que podem chamar MÃE.</strong>aixhttp://www.blogger.com/profile/07701394366491982450noreply@blogger.com0